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O CENTENÁRIO DE UM GÊNIO EM PLENA ATIVIDADE

Niemeyer divide sua carreira em 5 fases; Pampulha, de Pampulha a Brasília, Brasília, o exílio na Europa, a volta ao Brasil.
OSCAR NIEMEYER E A BUSCA DE UMA IDENTIDADE BRASILEIRA
A Modernidade no Brasil
Analisando as mudanças que levaram à implantação da Modernidade no Brasil julgamos oportuno fazermos uma elucidação sobre a utilização da palavra francesa “tournant” em nosso texto. Nós que somos adeptos fervorosos da manutenção da identidade dos povos e criticamos a globalização quando esta significa a destruição das diferentes culturas.
O dicionário francês Petit Robert, aponta, entre outras, a seguinte definição da palavra “tournant” em sentido figurado: “Momento onde aquilo que está em evolução muda de direção, torna-se outro”. Cita, ainda, “manifestar uma mudança importante”. Esta noção de processo evolutivo, alterando sua direção e se manifestando como uma mudança importante foi exatamente o que ocorreu com a Arquitetura no Brasil após 1816, data da chegada ao Rio de Janeiro da chamada Missão Artística Francesa. A palavra brasileira mais próxima seria “revolução”. Todavia, de acordo com o Professor Aurélio, a revolução é “a transformação total dos conceitos artísticos ou científicos dominantes numa determinada época: revolução literária, revolução tecnológica”. A palavra “revolução” dá a idéia de ruptura sem continuidade do processo evolutivo, enquanto ‘tournant” apresenta a ruptura dentro de um processo evolutivo.
A História da Arquitetura no Brasil divide-se em três períodos, correspondentes aos seus três períodos políticos: Arquitetura Colonial, Arquitetura Imperial e Arquitetura Republicana.
No Período Colonial predominou o Espírito Barroco, de origem portuguesa; no Período Imperial, o Espírito Clássico francês; e no Período Republicano a supremacia é do Espírito Moderno. Inicialmente o “Esprit Nouveau” no sentido pregado por Le Corbusier, até a encarnação de um Espírito Brasileiro.
A Arquitetura Colonial corresponde pois ao Espírito Barroco, Ela sofreu uma forte influência da Cultura Portuguesa adaptada ao novo meio. É o que corresponde aos séculos XVI, XVII e XVIII.
A Arquitetura Imperial é a do século XIX, isto é, de 1822, data da Independência do Brasil, até 1889, data da Proclamação da República. Foi o momento do primeiro “tournant” na Arquitetura do Brasil: transição da estética barroca de origem portuguesa para a neoclássica de inspiração francesa. O responsável por esta alteração foi o Arquiteto francês Grandjean de Montigny, aqui falecido em 1850. Ele foi o primeiro Professor de Arquitetura no Brasil.
Iniciava-se um longo caminho para a concepção de uma Arquitetura realmente brasileira.
Este percurso é assinalado por três datas valiosas para a História da Arquitetura no Brasil: 1816, chegada de Grandjean de Montigny ao Rio de Janeiro; 1929, primeira viagem de Le Corbusier ao Brasil; 1942, o nascimento da Arquitetura Brasileira com o desabrochar de Oscar Niemeyer. A partir deste momento podemos falar de uma Arquitetura Brasileira.
O segundo “tournant” na Arquitetura do país ocorreu por influência direta de Le Corbusier após as duas viagens que ele fez ao Rio de Janeiro em 1929 e 1936. Nestes dois momentos de mudanças na Arquitetura no Brasil, intimamente ligados aos ideais de liberdade e de criatividade, a inspiração veio da França: é o “Espírito Eterno” da França, fazendo minhas as palavras de Leon Denis, que encarnou no Brasil para guiar as novas tendências da Arte. Os dois grandes Mestres da Arquitetura no Brasil foram Grandjean de Montigny e Le Corbusier, que aqui trabalharam e fincaram suas raízes.
Quando Le Corbusier aportou no Rio de Janeiro em julho de 1936, sete anos portanto após sua primeira viagem, podia-se perceber que a situação geral do país apresentava profundas modificações: mudanças políticas e também na Arquitetura como confirmava a construção do prédio da A.B.I. dos irmãos Roberto, (Marcelo, Milton e Maurício). Ele tinha então como missão duas tarefas: analisar e criticar o ante-projeto para o Ministério da Educação e Cultura, e projetar a Cidade Universitária, que o Governo Vargas tencionava erigir na Quinta da Boa Vista.
A metodologia de trabalho de Le Corbusier, sua cultura e sua seriedade profissional marcaram os jovens arquitetos brasileiros. Seus escritórios tornaram-se autenticas escolas de aprendizado da Nova Arquitetura.
Do grupo de seis arquitetos que laboraram com Le Corbusier é imperativo assinalar o caso singular de Oscar Niemeyer. A partir do encontro com o Mestre o arquiteto brasileiro iniciou uma carreira fulgurante tornando-se o maior “criador de formas” do século XX, segundo Yves Bruand, em sua Tese de Doutorado “A Arquitetura Contemporânea no Brasil”.
Oscar Niemeyer e o terceiro “tournant” da Arquitetura no Brasil
O Brasil buscava sua identidade cultural desde a Independência em 1822. O ciclo Imperial e os primórdios da República caracterizaram-se por uma alteração da cultura portuguesa para a cultura francesa. Foi uma transição à procura de uma cultura brasileira. A materialização desta cultura brasileira, em Arquitetura, data de 1942, com o projeto de Oscar Niemeyer para a Pampulha, especialmente no que concerne à Igreja de São Francisco de Assis.
A Modernidade no Brasil
Analisando as mudanças que levaram à implantação da Modernidade no Brasil julgamos oportuno fazermos uma elucidação sobre a utilização da palavra francesa “tournant” em nosso texto. Nós que somos adeptos fervorosos da manutenção da identidade dos povos e criticamos a globalização quando esta significa a destruição das diferentes culturas.
O dicionário francês Petit Robert, aponta, entre outras, a seguinte definição da palavra “tournant” em sentido figurado: “Momento onde aquilo que está em evolução muda de direção, torna-se outro”. Cita, ainda, “manifestar uma mudança importante”. Esta noção de processo evolutivo, alterando sua direção e se manifestando como uma mudança importante foi exatamente o que ocorreu com a Arquitetura no Brasil após 1816, data da chegada ao Rio de Janeiro da chamada Missão Artística Francesa. A palavra brasileira mais próxima seria “revolução”. Todavia, de acordo com o Professor Aurélio, a revolução é “a transformação total dos conceitos artísticos ou científicos dominantes numa determinada época: revolução literária, revolução tecnológica”. A palavra “revolução” dá a idéia de ruptura sem continuidade do processo evolutivo, enquanto ‘tournant” apresenta a ruptura dentro de um processo evolutivo.
A História da Arquitetura no Brasil divide-se em três períodos, correspondentes aos seus três períodos políticos: Arquitetura Colonial, Arquitetura Imperial e Arquitetura Republicana.
No Período Colonial predominou o Espírito Barroco, de origem portuguesa; no Período Imperial, o Espírito Clássico francês; e no Período Republicano a supremacia é do Espírito Moderno. Inicialmente o “Esprit Nouveau” no sentido pregado por Le Corbusier, até a encarnação de um Espírito Brasileiro.
A Arquitetura Colonial corresponde pois ao Espírito Barroco, Ela sofreu uma forte influência da Cultura Portuguesa adaptada ao novo meio. É o que corresponde aos séculos XVI, XVII e XVIII.
A Arquitetura Imperial é a do século XIX, isto é, de 1822, data da Independência do Brasil, até 1889, data da Proclamação da República. Foi o momento do primeiro “tournant” na Arquitetura do Brasil: transição da estética barroca de origem portuguesa para a neoclássica de inspiração francesa. O responsável por esta alteração foi o Arquiteto francês Grandjean de Montigny, aqui falecido em 1850. Ele foi o primeiro Professor de Arquitetura no Brasil.
Iniciava-se um longo caminho para a concepção de uma Arquitetura realmente brasileira.
Este percurso é assinalado por três datas valiosas para a História da Arquitetura no Brasil: 1816, chegada de Grandjean de Montigny ao Rio de Janeiro; 1929, primeira viagem de Le Corbusier ao Brasil; 1942, o nascimento da Arquitetura Brasileira com o desabrochar de Oscar Niemeyer. A partir deste momento podemos falar de uma Arquitetura Brasileira.
O segundo “tournant” na Arquitetura do país ocorreu por influência direta de Le Corbusier após as duas viagens que ele fez ao Rio de Janeiro em 1929 e 1936. Nestes dois momentos de mudanças na Arquitetura no Brasil, intimamente ligados aos ideais de liberdade e de criatividade, a inspiração veio da França: é o “Espírito Eterno” da França, fazendo minhas as palavras de Leon Denis, que encarnou no Brasil para guiar as novas tendências da Arte. Os dois grandes Mestres da Arquitetura no Brasil foram Grandjean de Montigny e Le Corbusier, que aqui trabalharam e fincaram suas raízes.
Quando Le Corbusier aportou no Rio de Janeiro em julho de 1936, sete anos portanto após sua primeira viagem, podia-se perceber que a situação geral do país apresentava profundas modificações: mudanças políticas e também na Arquitetura como confirmava a construção do prédio da A.B.I. dos irmãos Roberto, (Marcelo, Milton e Maurício). Ele tinha então como missão duas tarefas: analisar e criticar o ante-projeto para o Ministério da Educação e Cultura, e projetar a Cidade Universitária, que o Governo Vargas tencionava erigir na Quinta da Boa Vista.
A metodologia de trabalho de Le Corbusier, sua cultura e sua seriedade profissional marcaram os jovens arquitetos brasileiros. Seus escritórios tornaram-se autenticas escolas de aprendizado da Nova Arquitetura.
Do grupo de seis arquitetos que laboraram com Le Corbusier é imperativo assinalar o caso singular de Oscar Niemeyer. A partir do encontro com o Mestre o arquiteto brasileiro iniciou uma carreira fulgurante tornando-se o maior “criador de formas” do século XX, segundo Yves Bruand, em sua Tese de Doutorado “A Arquitetura Contemporânea no Brasil”.
Oscar Niemeyer e o terceiro “tournant” da Arquitetura no Brasil
O Brasil buscava sua identidade cultural desde a Independência em 1822. O ciclo Imperial e os primórdios da República caracterizaram-se por uma alteração da cultura portuguesa para a cultura francesa. Foi uma transição à procura de uma cultura brasileira. A materialização desta cultura brasileira, em Arquitetura, data de 1942, com o projeto de Oscar Niemeyer para a Pampulha, especialmente no que concerne à Igreja de São Francisco de Assis.


A consolidação de uma Identidade Brasileira, na política e na arquitetura aconteceu em Brasília, com Juscelino Kubitschek e Oscar Niemeyer. Foi o terceiro “tournant” da Arquitetura no Brasil.




A primeira geração moderna de arquitetos brasileiros em particular Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Hernani Vasconcelos, Carlos Leão, Jorge Moreira e Affonso Eduardo Reidy, sempre procurou uma representação da arquitetura que traduzisse uma Identidade Brasileira. Os seus objetivos foram alcançados através dos projetos da Pampulha e do Edifício do então Ministério da Educação e Cultura.
Lúcio Costa, no início de sua carreira, pensou encontrar esta Identidade Brasileira na Arquitetura Neo-Colonial. O Mestre, em entrevista a mim concedida quando eu elaborava minha Tese de Doutoramento na Sorbonne, expôs-me esta sua grande preocupação. Afirmou-me, também, que quando Niemeyer foi trabalhar em seu escritório, como desenhista, percebeu logo seu imenso talento.
Niemeyer, também contou-me que buscava uma arquitetura diferente, que cunhasse uma Identidade Brasileira, mas não sabia que direção tomar.
Em minha tese, intitulada “Grandjean de Montigny, Le Corbusier, Oscar Niemeyer: le chemin vers une architecture brésilienne”, apontei o cuidado da chamada “primeira geração moderna” em assumir uma Arquitetura contendo uma Identidade Brasileira. Asseverei que a Arquitetura Brasileira nasceu com o projeto de Oscar Niemeyer para o Conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte. A partir daquele momento eclodia uma Arquitetura Brasileira, que se expandiu em todo o país, atingindo seu clímax em Brasília. O Brasil tornou-se sinônimo de vanguarda da Arquitetura Mundial. Lúcio Costa me afirmou que comparava a Arquitetura Mundial com um trem, no qual a locomotiva era o Brasil.
Após algumas décadas, permitimos a implantação do Estilo Miami, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e a construção de um Shopping Center adornado na entrada por uma réplica da Estátua da Liberdade. Concluímos pois que a tão ansiada Identidade Brasileira pode não mais existir.
Roberto Cavalcanti
Arquiteto/Urbanista
Professor Doutor
FAU-UFRJ